"E que não esqueça que a subida mais escarpada e mais a mercê do ventos é sorrir de alegria"

                                                                                                                                 Clarice Lispector












Marco Stocco


    A visão da arte, construída em parceria com a direção, pretende elaborar planos que tornem vivos algumas percepções que tivemos com relação a esse personagem, tanto através das conversas informais que mantivemos com ele, quanto pelo trabalho intuitivo de conseguir percebe-lo e capta-lo enquanto uma das "vigas mestras" desse documentário.
    Artista e escorpiniano, Stocco esta na faixa dos 50 anos; é uma pessoa extremamente inteligente, elegante, simpática, divertida e com um histórico profissional minimamente invejável. Formado em artes cênicas pela Escola de Arte Dramática da USP, veio a trabalhar em inúmeras Cias, com destaque para duas em especial: a de Gerald Thomaz e a de Antunes Filho. 
    Toda essa vivência, incluindo os anos em que residiu na Europa, nos é contado com simplicidade, sem galhardias ou ostentações, em companhia de um copo de cerveja, sempre cheio de pedras de gelo, as quais ele chama por "engana velho", fazendo piada consigo mesmo.
    Critico, imoral, palhaço, irônico, paterno, suave, reservado, lúdico, sábio, cruel, majestoso, solitário... feliz; Stocco, desde o primeiro contato ja nos desperta inúmeros adjetivos. E através deles principalmente foi que ousamos construir a proposta que se segue.



Do Ato ao Fato


    Definimos que as gravações do dia 15 de outubro de 2011 serão construidas no espaço pessoal do entrevistado, e portanto nos valeremos dos seus objetos pessoais, memórias e dormitórios para construir a sua narrativa. 
    Elencamos alguns ambientes que devem ser priorizados para que possamos transmitir a idéia construida em torno dessa personagem: o ateliê de pintura; o jardim; o quarto (priorizando a cena em que o personagem se prepara para dormir) e todos aqueles ambientes que guardam suas referencias de memória: fotos, videos, cartas, obras etc.
   Pretendemos fazer o minimo de alterações nesses espaços, limpando e tirando de foco somente aquilo que for  prejudicar a harmonia da cena.
    O estilo rústico dos móveis e das construções da cidade, em composição com as paisagens interioranas, onde predomina o verde, podem ser interessantes para explorarmos. Ainda mais estando na primavera, com o seu sortimento de cores. 
    
Cores fundamentais: Branco, Azul, Verde, Amarelo; Terracota; Laranja, Marrom, Vermelho e Sépia. 



Referências Artísticas e Visuais:






"Viaggio Interiore" / Marco Stocco 

A vontade de estar só, em sintonia consigo mesmo e com aquilo que há de mais essencial. Sem tecnologias ou qualquer outro aparato modernoso. Nesse quadro, o autor de mesmo nome, traz o personagem a cena, olhando pra si mesmo através do espelho. Da ilusão produzida, não sabemos se ele se enxerga duplo, multifacetado ou se somos nós que o vemos assim. Sabemos porém da solidão a luz de velas. Doída pra tantos, regeneradora para outros.




Natureza-morta com maçãs e laranjas, 1985-1900, Cézanne


O universo de Cézanne  me atrai não somente pelas cores lindas que produz, mas pelo modo como retrata coisas próximas. A riqueza de detalhes de uma porcelana antiga, que pode ter sido da avó. A textura do tecido estampado, quase que possível de ser tocado devido a perfeição de sua composição. O branco contrastante da toalha. A lembrança do caseiro, do cotidiano, do antigo, daquilo que convive em harmonia, apesar das diferentes origens... Lembranças de ontem e de hoje..










The House of Pere Lacroix in Auvers/ 1873 / Paul Cézzane


Gosto muito desse quadro e da sua proposta. A casa velada por traz do jardim. A natureza concreta, a compor com o ocre da casa uma realidade bonita de ser vista e tocada. A janela aberta, convidando o visitante a espiar. A alegria silenciosa das cores caminhando em danças e degradês. 





Jocelyn Hobbie, Nun Painter, 2005, 

Exibir-se para o público; mostrar-se  nem sempre é fácil. Ainda mais quando falamos de pessoas reservadas. Quais as possibilidades que um ateliê nos traz? O meu "eu" revelado e que se disfarçava a cada nova investida? Toda minha leveza trazida por meus demônios? Como eu me enxergo e vejo o mundo, sem as prisões dos códigos escritos? Tudo isso? Nada?... Sei la. Só sei que, no quadro, toda a culpa, posta a frente, não esconde a beleza suave do azul, com seus cortinados de rendas e nuvens.  



Dzi Croquettes


Revi o Dzi Croquettes mais umas duas vezes depois que reencontrei o Stocco. Uma fala dele em especial me marcou. Foi quando disse que conseguiu ser um Dzi croquette antes mesmo do surgimento do grupo. E isso graças as idéias de liberdade em que sempre acreditou, exercidas na vida e nos palcos. Fico a imagina-lo assim agora, sempre uma possibilidade, ao lado de Paullete ou no centro da foto, entre os três. Uma história viva do teatro brasileiro, como um amigo meu o retratou, brilhando discreto no céu do interior.







Itupeva





Itupeva II





Itupeva III







    
    
     









    














Manifesto Artemvidas

    A direção de arte tenciona construir planos que explorem dualidades, diferentes vibrações e até mesmo opostos. Nesse sentido pensamos em adequar cenários conforme as percepções que: tanto a direção de arte, quanto o restante da equipe, tiverem com relação aos entrevistados. Para isso julgamos necessário que haja uma sintonia entre nós. Dai a ideia de construir esse  blog - afim de trazer visualmente tudo aquilo que em palavras torna-se difícil de explicar, ainda mais quando estamos envolvidos com outros modos de arte, que por suas próprias naturezas escapam aos códigos linguísticos convencionais.
    Apesar da existência de um questionário comum, encaminhado a todos os entrevistados, julgamos interessante nos embasar também naquelas percepções sensíveis que nos assaltarão quando estivermos diante daqueles que darão vida pratica ao nosso "projeto-embrião". Por esse motivo revela-se de grande importância que, se possível, consigamos notar tendencias pessoais desde o primeiro contato até o último: os tímidos; os expansivos; os comportados; os desbocados; os organizados; os desorganizados; os românticos; os práticos...
    Longe de construir esteriótipos ou casas de "barbies", perfeitas, moduladas e cheias de "objetos identitários falantes", nossa intenção é seguir um fluxo leve, estabelecendo uma composição que intercale, através de recursos os mais simples possíveis,  esses diferentes matizes. Trazendo a tona singularidades que cada um desses seres carregam, em uma composição abrangente e harmônica.
    Um plano portanto que, apesar de estar com foco na individualidade, não perca de vista o conjunto da obra, dando ensejo com isso, através da exploração de opostos, a um gráfico senoide ou à uma espécie de "melodia visual".